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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 18-12-2014

Macroscópio – Fez-se História nas relações EUA-Cuba. Mas falta muito mais História por fazer‏

Macroscópio – Fez-se História nas relações EUA-Cuba. Mas falta muito mais História por fazer

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Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

(Cartoon publicado no El Mundo)

 
 
 
As comunicações de ontem, em simultâneo, de Barack Obama e Raul Castro, marcaram o início de uma nova fase nas relações entre Cuba e os Estados Unidos. Realizou-se uma troca de prisioneiros, vão trocar-se embaixadores e relançar-se-á a discussão sobre o levantamento do embargo. Para além dos importantes detalhes sobre a forma como foi negociado o acordo – e o papel desempenhado pelo Vaticano e pelo Papa Francisco – importa agora perceber todo o impacto de um gesto que já foi designado como histórico.
 
Mas começemos por entender melhor o que foi realmente acordado. Para isso socorro-me da ajuda do espanhol ABC que, em “Claves para entender el embargo de EE.UU. a Cuba y la nueva etapa abierta”, nos apresenta de forma sintética e precisa os vários pontos do acordo. De facto, para além dos temas mais políticos, o acordo já vai ter importantes impactos económicos. Por exemplo:
En lo que a las relaciones económicas se refiere habrá múltiples cambios. Para empezar, se podrá mandar más dinero a Cuba: el límite pasará de 500 dólares a 2.000 dólares por trimestre. El envío de dinero desde EE.UU. para proyectos humanitarios (remesas de donativos) o para respaldar el desarrollo de empresas privadas en Cuba ya no requerirán una licencia específica. Además, las instituciones norteamericanas podrán abrir cuentas en instituciones financieras cubanas con el objetivo de facilitar el procesamiento de transacciones autorizadas. 
 
O Wall Street Journal também fez a sua síntese, mais focada no que afecta directamente os cidadãos americanos – “Cigars, Rum and Credit Cards: What Is in U.S.-Cuba Agreement?” – mas, ao mesmo tempo, acrescentou uma síntese muito breve e cortante sobre a economia cubana: “5 Things to Know About Cuba”. Aí ficamos a saber, por exemplo, que em Cuba quase ainda não há telemóveis:
Amid years of poverty, Havana knows that its policy strategy has failed but it fears losing its grip. “The government continues to balance the need for loosening its social economic system against a desire for firm political control,” the CIA says. In 2011, the government approved an economic overhaul and has slowly rolled out policies such as allowing the population to buy cell phones, private real estate ownership and limited retail services.
 
Assim chegamos ao impacto que estas novas medidas terão no futuro de Cuba. As opiniões estão longe de ser unânimes, se bem que a maior parte dos órgãos de informação tenham aplaudido o acordo de ontem. Um bom exemplo desse aplauso é o que encontramos na Economist, onde se titula “At last, a thaw”. Um dos pontos centrais do argumento daquela revista, que sempre se opôs ao embargo, é o seguinte: “In seeking to normalise diplomatic relations, the administration recognised what has long been clear to the outside world: the embargo has manifestly failed to topple the Castros. Under Raúl Castro change has slowly started to come to Cuba from within. Private farmers, small businesses and co-operatives now make up around a fifth of the island’s labour force.
Curioso é verificar que a revista recupera um editorial de 1960 (!)onde se escrevia: “"Far from helping an incipient opposition, the United States' embargo may well have the opposite effect. Dr Castro's supporters are already in an embattled frame of mind, which an atmosphere of siege can only stiffen... Above all, the United States view that things must be made to get worse in Cuba before they can get better is far from convincing; they might, after all, just go on getting very much worse.” 
Premonitório.

A defesa do movimento diplomático de Obama também é feita pelo editorial do New York Times – “Mr. Obama’s Historic Move on Cuba” -, mas já o Washington Post segue uma linha bem distinta – “Obama gives the Castro regime in Cuba an undeserved bailout”. Os principais argumentos do WP é que a troca de prisioneiros foi desequilibrada a favor de Cuba – “While Mr. Obama sought to portray Mr. Gross’s release as unrelated to the spy swap, there can be no question that Cuba’s hard-line intelligence apparatus obtained exactly what it sought when it made Mr. Gross a de facto hostage.” – e que as consequências do fim do embargo no declínio do regime cubano não serão aquelas que Washington espera: “The Vietnam outcome is what the Castros are counting on: a flood of U.S. tourists and business investment that will allow the regime to maintain its totalitarian system indefinitely. Mr. Obama may claim that he has dismantled a 50-year-old failed policy; what he has really done is give a 50-year-old failed regime a new lease on life.”
 
A ideia de que existe de facto um desequilíbrio no resultado da negociação é defendido por alguns dissidentes cubanos de primeiro plano. É o caso de Carlos Alberto Montaner, que o faz numa pequena gravação no seu blogue, ou da bem conhecida Yoani Sánchez num artigo reproduzido pelo El Pais - Alan Gross, el anzuelo que terminó siendo tragado. Ela continua pessimista: “En el juego de la política los totalitarismos logran imponerse a las democracias, porque controlan la opinión pública al interior de sus países”.
 
A esperança de muitos dos que defendem a necessidade de levantamento do embargo é que este é utilizado internamente pelos irmãos Castro – que o designam por “bloqueio”, apesar de não existir nada que a isso se assemelhe – para justificar as dificuldades económicas do regime. Sem embargo, esse argumento desapareceria. Foi precisamente isso que defendeuTed Henken, “a professor of Latin American studies at Baruch College in New York” aos repórteres do New York Times: 
“Without the U.S. to blame,” he said, “the shortcomings of the Cuban government will be much more transparent. The Cuban government will no longer be able to blame the United States for the obstacles that entrepreneurs face. The government will have to be able to explain why it’s so hard to get a loan from a bank, get a cellphone, get access to broadband.”
 
Encontramos o mesmo tipo de sensibilidade nesta reportagem do El Pais – “La llave del embargo” – “El embargo está codificado en el ADN del cubano, y del mismo modo lo está el enrocamiento del régimen ante Estados Unidos como reacción a esa política de asfixia, cuya existencia ha servido de argumento y excusa para justificarlo todo” – e neste artigo de opinião de Douglas Irving no Wall Street Journal – “Trade Will Lead to Freedom”. O seu argumento é clássico: “Trade will unleash winds of change that will upset the status quo. As Ronald Reagan understood, there is nothing more unsettling to repressive regimes than allowing the exchange of goods and people, ideas and information, to flow freely between countries. Commerce is a conduit for this exchange and can upend the balance of power in closed societies.” Ainda no Wall Street Journal pode ser lida uma outra argumentação em sentido contrário, esta do senador Marco Rubio – “A Victory for Oppression” -, para além do editorial, que também é crítico – “Obama’s Cuban Detente”.
 
De facto há algo que não devemos esquecer: Cuba continua a ser uma ditadura. “Mis padres, también mis abuelos, fueron castristas; todo el mundo en Cuba, o casi todo el mundo, lo fue un tiempo. La mayoría apoyó la revolución del 59 buscando democracia y justicia. Después, cuando los hermanos se apropiaron de la perla que tenía el Caribe y convirtieron la Revolución en un régimen invivible, los que pudieron escaparon.”, como ainda ontem escrevia Ángel F. Fermoselle no El Mundo.
 
Esta realidade não foi esquecida por Owem Jones no Guardian, que titula de forma certeira: “The US embargo is disappearing; so, too, must Cuba’s dictatorship”. Ou seja: “Democracy is a universal right, not something that only some peoples or some cultures deserve. (…) Supporters of the Castros have long argued that a transition to democracy is made impossible by US hostility. Well, that excuse may now disappear.”
 
Seja lá como for, o mundo está a mover-se. E Cuba pode passar, nos próximos tempos, por profundas transformações. O que levou o Telegraph a seleccionar “14 sights to catch before Cuba changes forever”. Eu, que há exactamente há 14 anos estive em Cuba (tinha de conhecê-la antes de Fidel Castro deixar o poder), garanto-vos que é uma excelente selecção. Se puderem, aproveitem.
 
Entretanto, boas leituras.
 
 
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