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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 5 DE FEVEREIRO DE 2015

Macroscópio – A Grécia chocou com a realidade, ou a involução do Syriza‏

Macroscópio – A Grécia chocou com a realidade, ou a involução do Syriza

Para: antoniofonseca1940@hotmail.com


Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

 
 
No mesmo dia em que o ministro das Finanças grego se encontrou com Mario Draghi, e de Tsipras lhe ter telefonado, o BCE decidiudeixar de aceitar dívida grega como garantia, uma decisão que deixou a Grécia ainda mais encostada à parede do que já estava. Horas depois Varoufakis sentava-se à mesa com Schauble, o seu homólogo alemão, para concluir que nem sobre o desacordo tinham chegado a acordo.
 
O Observador tem seguido os acontecimentos com informação atualizada ao minuto, com textos em permanente actualização, ao mesmo tempo que temos procurado desenvolver trabalhos que ajudem a enquadrar o que vai estando em causa. Vou destacar alguns dos últimos dias:
  • Plano Varoufakis. Grécia está a "cair na realidade": uma análise ao plano Varoufakis, onde se deixava cair uma proposta central do programa eleitoral so Syriza, que passava por um corte direto da dívida. Nessa altura os mercados gostaram, mas o ministro recusou que tivesse havido um recuo.
  • O preço da dívida grega é baixo. Mas porquê?: um especial onde se explicou com detalhe como é possível a Grécia ter, proporcionalmente à sua riqueza, menos encargos com a sua dívida dos que países como Portugal ou a Itália.
  • Como se liga o custo da dívida ao crescimento?: uma análise onde se recordava que países como a Costa Rica, a Bulgária, a Argentina e até a Grécia já usaram diferentes modelos de pagamento da dívida indexados ao crescimento. Também se explicava porque é que os detalhes do plano vão fazer toda a diferença.
  • Associar dívida ao crescimento? PS diz 'claro': fomos saber o que pensam os partidos portugueses da proposta grega. Encontrámos entusiasmo no PS e prudência no PSD e CDS.
  • Rumores de Grexit foram manifestamente exagerados?: mais um especial, onde se tentou perceber a diferença que fez uma semana. Nos dias após as eleições, a Grécia parecia estar com um pé fora do euro. Depois começou a respirar-se melhor na zona euro. Foi um recuo ou uma estratégia de Tsipras-Varoufakis?
  • Grécia não quis vender os anéis. E não foi a única: mais um trabalho de sistematização, desta vez sobre o problema das privatizações. O que fizemos foi comparar o que se passou na Grécia com o que se passou nos outros países com memorandos, isto é, em Portugal, na Irlanda e em Chipre.
  • E depois do BCE? Guia para os próximos dias: finalmente, em cima da hora, uma primeira análise da medida tomada pelo BCE ontem à noite. Como aí se escrevia, os bancos gregos continuam a ter acesso a liquidez, ainda que mais cara, pelo que o risco de falta de liquidez é limitado. As consequências políticas é que são imprevisíveis.
 
A decisão do BCE já suscitou dois editoriais na imprensa portuguesa. Ambos relativamente críticos da decisão do banco central. Helena Garrido, no Jornal de Negócios, interroga-se sobre se o BCE não estará a atirar a Grécia para fora do euro. Agumento: “A estratégia ditada seja lá por quem for (…) vai acabar com a moeda única. Haverá um povo dos muitos povos europeus que acabará por preferir os horrores de sair do euro a continuar a assistir a este assassínio da alma da construção europeia e da democracia. Quem está à frente da Europa deixou de gostar dos seus companheiros europeus e mais cedo ou mais tarde vamos todos pagar caro por isso.” 
 
André Macedo, do Diário de Notícias, também não gostou doativismo do BCE: “o gesto de Draghi é uma prova de força com efeitos imediatos potencialmente desastrosos.” Mais: “Os gregos estão, desde ontem, mais isolados, mais vulneráveis. Não é um conto de crianças, é uma história de terror com pessoas de carne e osso.”
 
Passando à evolução, já muito sensível, das posições do Syriza e do governo grego, o meu primeiro destaque vai para uma passagem da entrevista de António Costa ao Público, onde fala de “involução” do Syriza (pode ler uma síntese do essencial da entrevista nesta notícia do Observador).
 
A “involução” do Syriza é um tema que começa a ocupar os analistas da imprensa europeia, apesar de estes estarem mais focados nos desenvolvimentos desta crise. Simon Nixon, no Wall Street Journal, fala mesmo de A Lesson in Reality for Greece’s Leaders. Eis como ele descreve o que está a acontecer a Tsipras e Varoufakis:
In the past week, Yanis Varoufakis has had to perform a number of U-turns in his capacity as Greece’s new finance minister. His party, Syriza, told voters it would demand a debt reduction; now Mr. Varoufakis says it will settle for a debt restructuring. Syriza said it would end austerity; Mr. Varoufakis now says he will run a primary budget surplus even if that means dropping other commitments in the party’s campaign manifesto. Last week, Mr. Varoufakis said he wouldn’t negotiate with Greece’s official lenders—the infamous “troika”; this week he met officials of all three: the European Central Bank, European Commission and International Monetary Fund.
 
Não se pense porém que estas mudanças de posição vão continuar ou são definitivas. O Syriza continua a ter de lidar com a opinião pública do seu país e a ter de gerir as elevadas expectativas que criou. É por isso muito interessante, importante mesmo, ler o que Aristides N. Hatzis, um professor de Direito da Universidade de Atenas, escreveu também no Wall Street Journal: There’s No Compromising With the Greeks. Ele explica-nos, por exemplo, que para os gregos a palavra “compromisso” é sinónimo de traição, pelo que nem sequer pode ser utilizada. A única solução é vender qualquer acordo como representando uma vitória heróica, como Andreas Papandreou, por exemplo, conseguiu fazer no passado. Hoje é difícil imaginar como poderá isso ser feito:
Will Mr. Tsipras prove to be as shrewd as Papandreou, able to sell a U-turn as a triumph? Or will he turn out to be as great a statesman as Venizelos, willing to take full responsibility for a hard bargain and suffer the consequences? There is always a third, much bleaker, historical alternative, one where the combination of demagoguery, impetuousness and myopia lead to defeat and humiliation. Let’s hope that our young prime minister knows his history.
O editorial do mesmo jornal também foca este tema: Greece’s Partial Reality Check.
 
De resto não são poucas as dificuldades no caminho da nova liderança grega. Por regra fala-se muito da Alemanha, mas há mais países sem vontade nenhuma de ceder a Atenas, E não, não falo da Finlândia ou da Holanda ou de outros países da Europa do Norte. Alguns dos mais ferozes opositores podem até ser da Europa do Sul. Como a Espanha. É isso mesmo que podemos ler no Financial Times: Spain keeps hawkish eye on Greece as southern solidarity crumbles. O correspondente em Madrid desse jornal sublinha que “Madrid has more reason than most to advocate a tough line against Athens”. No mesmo Financial Times, mas nas páginas de opinião, Andrés Ortega, do Instituto Real Elcano, recorda que Greece owes a debt to Spain. Extrato:
For now, in fact, Podemos does not really have any policies that it can sell as an alternative to the reformist programme of Mr Rajoy. But the fear of the traditional parties, and especially the governing Popular party, is that if Syriza gets its way in Greece, Podemos might revive the idea of a writedown on the Spanish debt. Chaos could follow.
 
Há mais reflexões interessantes na imprensa internacional – nomeadamente este texto de opinião no Telegraph onde se defende abertamente a saída da Grécia do euro, Why I think Greece would make a success of Grexit – mas tenho de voltar a Portugal para referir alguns textos de opinião importantes:
  • Paulo Rangel, no Público, em Syriza não é solução: é problema, faz uma previsão sombria:  “Há-de chegar o PREC à grega, com a agenda política de nacionalizações, expropriações e reversão das relações de produção.
  • Francisco Assis, no mesmo jornal, em A tentação do imediato e do efémero, referindo ao seu PS, considerou que “a demonização do PASOK, que alguns levaram a cabo com uma leviandade assustadora, constitui um sinal deveras inquietante”.
  • João Cardoso Rosas, um independente próximo do PS, escrevendo no Diário Económico, em Os novos protagonistas, considera que “o PS foi ultrapassado por uma lógica europeia mais vasta e que "espreme" os partidos do centro-esquerda entre as duas vias agora em concorrência directa: a via da direita liberal e obediente a Berlim e a via da esquerda entusiasmada com o Syriza (levando à boleia também alguma direita nacionalista e antiliberal).”
  • Vital Moreira, também no Diário Económico, em Refém de Atenas, parte da declaração de um membro do novo governo a anunciar que Atenas "matará" o acordo de comércio e investimento entre a UE e os Estados Unidos (TTIP) quando este tiver de passar pelo processo de ratificação nacional, para lembrar “os distraídos ou os ignorantes” que “o Syriza não é somente radical sobre a dívida e a austeridade orçamental na Grécia mas também sobre várias políticas próprias da União Europeia”.
  • Last but not the least, deixei para o fim Rui Ramos que, aqui no Observador, em Como é que o PS pode ser o PASOK, defende que “o PASOK não desapareceu na Grécia pelas razões que António Costa imagina, mas pelas razões contrárias. E o PS, se ainda não é o PASOK, pode sê-lo rapidamente: basta-lhe tentar ser o Syriza.”
 
Por hoje é tudo. Amanhã suspeito que regressarei para vos falar da Ucrânia, onde germina outra grande crise europeia. Mas nunca se sabe, estes dias têm sido vertiginosos.
 
Bom descanso e boas leituras.
 
 
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ANTÓNIO FONSECA

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